A vida dura e digna do campo vivida por um homem simples e honrado é o foco central do curta-metragem “Tamanca de Madeira”, de Dircélia Aparecida Senff Nicoluzzi, moradora de Irineópolis, em Santa Catarina. O vídeo, inspirado nas lembranças do falecido avô da diretora, está em fase de edição. A história foi uma das 40 selecionadas pelo Revelando os Brasis, Ano IV.
A ficção, baseada em fatos reais, resgata a rotina de um dia na vida do caboclo Marcílio Alves. As cenas mostram desde o despertar na cama velha de imbuia e colchão de palha de milho, quando calça sua tamanca de madeira, até o trabalho de extração da matéria-prima para produção de tijolos e telhas na Olaria, na Vila de Valões, na comunidade de São Pascoal. Cada lembrança do cotidiano do agricultor, incluindo a preparação do desjejum, o banho com sabão caseiro e a alimentação dos animais, foi revivida nas filmagens.
O vídeo está em fase de edição. As gravações aconteceram no período de 31 de janeiro a 04 de fevereiro, envolvendo uma equipe composta por mais de 40 moradores da região. Os participantes assumiram funções no elenco e também desempenharam atividades de produção. “Nunca tive essa oportunidade, nunca pensei que viveria tanta emoção e experiência de tal forma! Tem sido um grande momento na minha vida, e esse momento foi proporcionado para muitas pessoas de minha comunidade e município, que se envolveram direta ou indiretamente na execução do filme”, declara a diretora.
De acordo com Dircélia, “a história é um registro do jeito de viver no campo que valoriza a dignidade, a força e o vigor do caboclo que vive feliz com sua existência e com seu lugar de onde tira suas alegrias e recordações”. A diretora vivenciou cada momento desta história porque morava numa pequena casa no terreno onde vivia o avô. No filme, ela trocou seu nome para Maria Helena e foi interpretada, na infância, por Ana Laura Guelbcke, sete anos, e depois, na fase adulta, por sua própria filha Nicoli Nicoluzzi, de 18 anos de idade. Marcílio Alves foi vivido pelo agricultor Pedro Lisboa, 65 anos. O papel do fazendeiro e empresário Delby Machado, proprietário da Olaria onde o caboclo Marcílio trabalhou por cerca de 40 anos, foi vivido por Reni Bechtold.
A diretora – Dircélia Aparecida Senff Nicoluzzi é formada em Pedagogia e Artes Visuais pela Universidade do Constestado e tem pós-graduação em Educação Infantil e Séries Iniciais. A educadora aproveitou a oportunidade do projeto para realizar o desejo de escrever. “Sou de acompanhar as histórias das comunidades, gosto de ouvir o que as pessoas mais antigas têm para contar sobre suas vivências, mas nunca tive coragem de escrever. A seleção no Concurso de Histórias do Revelando representou uma janela para continuar escrevendo. Não quero parar mais”, relata. Outro desejo da autora era o de colocar em prática seus conhecimentos na área de Artes Visuais. Com o projeto, ela ganhou a chance de exercitar suas habilidades e ainda de aprender as especificidades da linguagem e das técnicas audiovisuais. E destaca: “esse projeto é uma oportunidade para os moradores mostrarem como é a vida nos municípios menores. É também uma chance para despertar novos escritores e novos cineastas”.