O primeiro dia de aula proporcionou o encontro dos novos selecionados com uma revelanda da terceira edição do projeto. Nilma Accioli, de Iguaba Grande, no Rio de Janeiro, não imaginava o quanto a participação no projeto mudaria sua vida.
O documentário “Ibiri: sua boca fala por nós”, que revela o drama das irmãs Conceição da Silva, descendentes de escravos, que foram expulsas de suas terras. “O projeto representa um marco na minha vida. Primeiro, porque o filme mudou a relação de rejeição que a cidade tinha em relação às mulheres “congas”, como são chamadas, porque possibilitou que elas contassem a sua história. A iniciativa também gerou mudanças na minha vida profissional”. Quando participou do projeto, Nilma já tinha se aposentado como professora e atuava como diretora de cultura na cidade. Os caminhos percorridos pelo filme levaram-na a aprofundar sua veia de pesquisadora.
Apresentada em mostras e festivais nacionais e internacionais, a obra ganhou visibilidade e reconhecimento e, entre as conquistas, estão o Prêmio do Público do Festival de Vídeo Mémoire, Heritages et Formes Esntemporaines, na França, e o Prêmio de Melhor Filme, concedido pelo Júri Oficial, no IX Arariboia Cine.
Após a experiência, a diretora ampliou seus estudos e pesquisas sobre a escravidão e as injustiças contra negros no país. No ano passado, Nilma lançou o livro “José Gonçalves da Silva à Nação Brasileira: o tráfico ilegal de escravos no antigo Cabo Frio”. A obra é o primeiro registro historiográfico sobre o traficante de escravos José Gonçalves da Silva, que atuou no período de 1845 a 1850, sendo responsável pelo tráfico de cerca de 8 mil pessoas.
“As entrevistadas se autorreconhecem como descendentes de escravos traficados por José Gonçalves”, relata a autora, que confirmou a informação sobre a atuação do traficante em suas pesquisas na Biblioteca Nacional e no Arquivo Nacional. Na época, o traficante, que foi denunciado e preso por seis anos, após seu enquadramento pela Lei Eusébio de Queiros, escreveu um livro em que se diz perseguido pelo criador da lei que determinou o fim do tráfico de escravos. O livro de Nilma Accioli foi viabilizado através do Fundo Nacional de Apoio à Pesquisa, do Ministério da Cultura, em parceria com a Fundação Biblioteca Nacional, e publicado pela Funarte. A pesquisa em arquivos portugueses foi realizada através do projeto “Do Porto para o Brasil: a formação do tráfico ilegal de escravos”, contemplado pelo Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural da Secretaria de Fomento e Incentivado à Cultura (MINC). Um exemplar da obra foi sorteado entre os selecionados da quinta edição do Revelando os Brasis.
Ao final da sua apresentação, a diretora incentivou os que estão começando no projeto. “O filme que eu fiz através do Revelando os Brasis teve muita repercussão nos meios acadêmicos. Participar do projeto é um momento mágico. É uma experiência única. Torço por vocês”, completou Nilma.