Revelando os Brasis | Revelando os Brasis resgata sonhos no Curimataú Paraibano

EDIÇÃO - Ano V

Revelando os Brasis resgata sonhos no Curimataú Paraibano

 

José é um jovem que sonha tornar-se engenheiro. A vida árida e pobre do Curimataú Paraibano, porém, desenhou outro destino para ele e sua família. Assim se fundamenta o roteiro preparado pela pedagoga Sandra Buriti, moradora de Barra de Santa Rosa, na Paraíba, selecionada pela quinta edição do Revelando os Brasis. As gravações começaram a ser feita nesta segunda-feira (26/05) e prosseguirão até quarta-feira (28/05).

Durante os três dias de filmagens, Sandra colocará em prática o que aprendeu no curso audiovisual ministrado por profissionais de cinema através do projeto, no Rio de Janeiro. Junto com outros 19 selecionados, moradores de pequenas cidades com até 20 mil habitantes, ela estudou noções sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte, som, dentre outras matérias, para saber como transformar a história em filme.

O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet.

A história – A inspiração para a história veio de dezenas de relatos de famílias que perderam sonhos e esperanças diante da condenação lenta e implacável da seca. “Esta é a realidade de assentados que amargam uma vida sem água, sem perspectiva e com poucas chances de estudar. Muitos decidem ir embora para conseguir dinheiro em outros lugares, deixando mulheres e filhos. Os filhos mais velhos também deixam suas casas para trabalhar em colheitas de lugares distantes, enterrando o sonho de estudar”, relata a diretora.

Apesar da migração forçada e do calvário revivido pelas famílias ao longo das gerações no agreste paraibano, Sandra preparou um destino novo para seus personagens. “Quero dar um outro desfecho para esta história. (…) Nós, nordestinos, desenvolvemos laços muito fortes com nossa família. A história apontará para um caminho de esperança”, adianta. Com 14.847 habitantes, de acordo a estimativa populacional do IBGE de 2013, Barra de Santa Rosa está localizada na microrregião do Curimataú, em um dos territórios com maiores índices de desertificação, e onde se formou um polo de assentamentos rurais.

Conheça a diretora – Casada há 23 anos, Sandra foi mãe aos 16 anos. Hoje tem dois filhos, um com 22 anos e outro com 13 anos, e uma neta com três anos de idade. Ser professora era seu sonho de infância. Ela conta que sempre se empenhou em construir uma escola dinâmica e criativa capaz de ultrapassar o modelo tradicional de ensino e aprendizagem.

Um de seus trabalhos chamou a atenção de órgãos federais de educação. “No ano de 2006, eu tinha uma turma de 30 alunos de ensino fundamental que não prestava atenção nas aulas e costumava riscar as carteiras. Foi quando decidi mostrar para eles o que era riscar de verdade. Apresentei aos alunos alguns pintores, como Tarsila do Amaral, e ofereci materiais através do qual pudessem desenhar e pintar para expressar o que sentiam”, conta a professora.

Estes ensinamentos começaram a fazer parte dos conteúdos das matérias como Português, Matemática, História, Geografia. “Por exemplo, na aula de Matemática, eles aprendiam a calcular as dimensões da tela de pintura”, explica. No decorrer de oito meses, por meio de atividades individuais e coletivas, os alunos passaram a se interessar mais pelas disciplinas, além de terem aprendido um pouco sobre as cores e as técnicas de pintura.

Ao final das atividades, uma exposição com 30 pinturas feitas pelos alunos em que expressavam sentimentos relacionados à seca, a fome, o amor, e outros temas, puderam ser apreciados pela comunidade. No ano de 2007, esta iniciativa desenvolvida na Escola de Ensino Fundamental Cícera da Silva Souza ganhou o Prêmio Professores do Brasil, se posicionando entre as dez melhores do país.

Com premiação em dinheiro e a divulgação do projeto em um livro, o concurso é uma promoção da Secretaria de Estado da Educação e Cultura, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed). O objetivo é fortalecer a escola com núcleo de cidadania na própria comunidade.

Dinâmica e determinada, Sandra defende a modernização do método de ensino convencional e incentiva o professor a utilizar na sala de aula o lúdico, a expressão corporal, o teatro, a música, as artes plásticas, e outras formas de cultura. “Adoro trabalhar com projetos dentro da escola. Fica mais fácil atingir os objetivos e as metas do ano escolar, evita que o professor se prenda dentro dos conteúdos formais e o estimula a trabalhar de forma interdisciplinar e integrada”, defende Sandra.

Segunda chance – Sandra Buriti havia se inscrito na 4ª edição do projeto Revelando os Brasis, no ano de 2010, mas não foi selecionada. Desde então começou a pesquisar blogs sobre roteiro e cinema para descobrir como poderia se preparar melhor para o Concurso Nacional de Histórias. O esforço deu resultado com a seleção da paraibana, em 2013.

“Espero colocar em prática o que aprendi nas oficinas audiovisuais, no Rio de Janeiro. E não foi pouca coisa que os professores ensinaram. Achei que meu “HD” não fosse comportar tanta informação. Saí do curso curiosa, principalmente, em relação à direção de fotografia. Participar do Revelando os Brasis é o Oscar da minha vida”, descreve empolgada.

 

Assista ao depoimento da diretora durante as Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro:

 
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