Viver em um mundo coberto por atrativos consumistas não é fácil. Ainda mais quando a propaganda usa da sedução para prometer satisfações que parecem imprescindíveis para qualquer um se tornar aceito e respeitado pela sociedade do consumo. Para conseguir acompanhar este ritmo desenfreado, muitas pessoas recorrem a empréstimos, sem saber se conseguirão honrar com o compromisso. Este é o tema principal da ficção criada pelo produtor cultural, Augusto César dos Santos, selecionado pela quinta edição do Revelando os Brasis. As cenas começaram a ser gravadas no sábado (31/05) e terminarão nesta terça-feira (03/06), no município de Meruoca, no Ceará.
Augusto é um dos 20 moradores de pequenas cidades selecionados pelo projeto para transformar histórias em curtas-metragens reais ou inventados. Antes das filmagens, Augusto e os demais selecionados provenientes de diferentes partes do país se prepararam nas oficinas audiovisuais realizadas no Rio de Janeiro. O grupo aprendeu noções básicas sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte, som, além de outras disciplinas.
O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet.
A história – No filme, um casal cheio de ambições decide contrair um empréstimo sem necessidade com a desculpa de aproveitar os juros baixos e as facilidades de pagamento oferecidos por uma instituição financeira. A chegada do dinheiro incentivou o casal a adotar um padrão de consumo que o orçamento real não acompanhava. Com o tempo, o comprometimento da renda para o pagamento dos juros da dívida começou a afetar até mesmo as contas domésticas tradicionais.
Na história, o descontrole financeiro passa a afetar a harmonia do relacionamento, gerando conflitos e a perda da estabilidade emocional da família. Mais que mostrar o consumismo, o diretor pretende denunciar a atuação imoral das instituições financeiras na tarefa de seduzir os potenciais endividados. “Sempre achei meio horrendo o que os emprestadores de dinheiro fazem para atrair as pessoas. O filme é um alerta contra o endividamento, os juros exorbitantes e injustos, mas também chama a atenção das pessoas que utilizam o dinheiro em supérfluos”, analisa o diretor.
As Oficinas Audiovisuais incentivaram o diretor a pensar novas estratégias narrativas para o curta-metragem. “O curso me ajudou enxergar novas possibilidades, novos desdobramentos para a história. O autor chega com uma ideia de roteiro mas descobre ser possível criar dinâmicas e efeitos diferentes, destacando pontos de virada para a sua ficção”, comenta Augusto.
Para ele, o intercâmbio e a troca de informações possibilitados pelo curso, no Rio de Janeiro, foram muito proveitosos. “As dicas repassadas pelos professores são estratégicas, principalmente, as de direção de arte. A metodologia do curso é muito organizada. Em poucos dias, recebemos de especialistas com conhecimentos diferentes todas as informações para realizar o filme”, ressalta.
Antes da seleção na quinta edição, o autor havia se inscrito três vezes no projeto. A intenção é divulgar o filme na região e para outros municípios, além da inscrição da obra e mostras e festivais.
O diretor – Roteirista, diretor, ator e produtor, Augusto é diretor no Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal. À frente da gestão cultural do município, ele está envolvido com projetos importantes como o Festival de Inverno de Meruoca, competição regional voltada para a música, cuja programação inclui ainda shows musicais, oficinas de artesanato, teatro, cinema e culinária. Outros projetos que contam com o envolvimento do diretor é o Festival de Reisados e a Encenação da Morte e Paixão de Cristo. Neste último, interpretou personagens como Judas, o carrasco, os apóstolos, além de já ter dirigido e trabalhado como produtor na peça.
Apaixonado pela leitura e a escrita, está montando um romance policial. Dentre seus autores preferidos estão Victor Hugo, Sidney Sheldon, Agatha Christie e Dan Brown, o que revela sua personalidade literária mais investigativa. No campo da literatura brasileira aprecia nomes como Raquel de Queiroz, Bernardo Guimarães e Aluízio de Azevedo.
“Gosto muito de me abster, numa espécie de fuga deste mundo. Gosto de entrar na cabeça do investigado, gosto do introspectivo”, revela o autor que costuma praticar a leitura em ambiente pouco convencionais como o cemitério. Uma de suas iniciativas de incentivo à formação de leitores foi aprovada por um edital do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Chamado Projeto Melhor Leitor, a ideia principal é divulgar a literatura cearense, estimulando as pessoas a conhecerem os autores locais.
Com a ajuda do projeto, as pessoas são incentivadas a estudar os autores para depois participarem de uma gincana de perguntas em um Quiz ao vivo realizado em algum espaço público da cidade. Os vencedores levam livros como prêmio. “O projeto incentiva a participação de muitas equipes e os competidores acabam começando a ler. Sempre vejo os livros circulando pela comunidade e muita gente passou a conhecer os autores”, conta.
Atualmente, o diretor também tem se interessado pelo cinema. “A participação no Revelando enaltece o autor, fortalece o currículo. Quero continuar no audiovisual como roteirista. Uma das ideias que tenho é propor um projeto de imersão na produção de roteiro para curtas e longas-metragens e para séries de internet”, planeja Augusto.