Revelando os Brasis | História da menina trocada por papagaio começa a ser gravada em Candeias do Jamari (RO)

EDIÇÃO - Ano V

História da menina trocada por papagaio começa a ser gravada em Candeias do Jamari (RO)

 

Há cerca de 44 anos, um grupo de irmãos pequenos decidiu trocar a irmã de oito meses por um papagaio na localidade de Araras, em Rondônia, próximo à divisa com a Bolívia. A história foi contada pela vendedora Joelma Silva Ferreira, moradora de Candeias do Jamari, no estado rondoniense, e selecionada pela quinta edição do Revelando os Brasis. As cenas da ficção baseada em fatos reais começarão a ser gravadas nesta quarta-feira (18/06), na cidade candeiense.

Antes das filmagens, Joelma e mais 19 moradores de cidades pequenas vindos de várias partes do Brasil participaram das Oficinas Audiovisuais realizadas pelo projeto, no Rio de Janeiro. Os autores estudaram com especialistas renomados da área do cinema noções básicas sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte, som, dentre outras disciplinas. As aulas os prepararam para transformar as histórias que contaram em documentários ou ficções de curta-metragem.

O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema. Trata-se de um instrumento de registro da memória e da diversidade cultural do país e revela novos olhares sobre o Brasil. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet.

A história – No final dos anos 60, a família Moreno vivia em um barracão no meio do seringal. Certo dia, os pais saíram para a colheita da seringueira em mata fechada, deixando as crianças mais novas aos cuidados das mais velhas. Foi quando um grupo de indígenas passou pela casa e uma índia propôs à criançada trocar Antônia, a irmã mais nova de oito meses de idade, por um papagaio. Apanhada pela inocência, a garotada achou a troca justa, pois a ave era adulta, verde e faladora. Quando os pais chegaram e souberam da troca comunicada com euforia pelas crianças, o desespero se apoderou da família que, numa luta contra o tempo, partiu para resgatar a menina.

Joelma ouviu o relato dos membros mais velhos da família do marido e decidiu adaptar o que aconteceu para uma ficção. “A partir desta história, quero contar outras principalmente envolvendo os antigos seringueiros que viviam dos seringais que ocupavam a região”, explica a autora.

A diretora – Pequena empreendedora informal, Joelma vende guloseimas em um ponto de comércio próximo ao Hospital Santa Isabel. Algumas vezes, quando não está tomando conta da sua mesa de doces, vende roupas artesanais de croché e bordado.

Devido à proximidade do estado de Rondônia com a Bolívia, ela se apaixonou pela Língua Espanhola. Esta motivação levou-a a estudar o idioma. Hoje, cursa Letras Espanhol na Universidade Federal de Rondônia (Unir).

A entrada na faculdade a despertou ainda mais para manifestações e atividades culturais como o teatro e a literatura. Integra um dos grupos de artes cênicas da universidade cujas peças são baseadas em livros e participa de um grupo de pesquisa em Literatura. Este se reúne semanalmente para ler trechos literários e debater a dinâmica dos textos.

É na combinação destes interesses que a diretora encontra uma de suas essências: o gosto por registrar histórias. “Há alguns anos comecei a catalogar histórias reais da cidade. E também estou escrevendo uma nova versão para as lendas antigas, uma espécie de brincadeira e crítica social envolvendo personagens como o saci, a sereia e tantos outros, adaptando estes seres e histórias para a modernidade. Quero escrever sobre o crescimento desordenado das cidades e como estes seres míticos tiveram que se adaptar a esta mudança”, conta Joelma.

Esta é a primeira vez que a autora envia uma história para o Concurso Nacional do Revelando os Brasis. “Através do projeto, quero revelar outros talentos da cidade. Espero que surjam outras histórias muito bonitas para se inscrever no Revelando. Só o fato de Candeias sair do anonimato já valeu”, comemora.

Um dos planos futuros da autora é incentivar as crianças a ler, a criar personagens e a organizar pequenas peças ou vídeos, promovendo a integração comunitária na cidade. “Decidi também que vou cursar audiovisual. Quero aprender a montar, a editar um filme, aprofundar este conhecimento adquirido no projeto”, planeja a rondoniense.

Confira o depoimento da diretora gravado durante as Oficinas Audiovisuais, no Rio de Janeiro:

Galeria de Imagens

 
  1. facebook
  2. instagram
  3. youtube