Revelando os Brasis | GAURAMA VOLTA AO PASSADO PARA CONTAR HISTÓRIA DOS PRIMEIROS IMIGRANTES

EDIÇÃO - Ano IV

GAURAMA VOLTA AO PASSADO PARA CONTAR HISTÓRIA DOS PRIMEIROS IMIGRANTES

Dezenas de moradores de diferentes idades do pequeno município de Gaurama, no Rio Grande do Sul, viajaram por décadas pelo passado para recriar a história dos primeiros habitantes da cidade, no início do século XX. 
 
Crianças, jovens e idosos, muitos deles descendentes das primeiras famílias de imigrantes europeus fundadores da comunidade, se juntaram para compor o elenco da ficção “Partituras do Tempo” da historiadora Gladis Helena Wolff, selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis. A mobilização envolveu moradores, empresas locais e a Prefeitura Municipal para realização da obra.
 
Com base em fatos reais, o filme conta como famílias alemãs e italianas vivenciaram os sonhos e a esperança de reconstruir a vida num novo lugar ao mesmo tempo em que guardavam a saudade da terra natal. A diretora escolheu como eixo condutor do vídeo a história do imigrante alemão Martin Moron e sua paixão pela música. Ao lado de mais dois músicos, o agricultor montou um trio que animou os bailes da comunidade originando, anos mais tarde, a primeira orquestra da região norte gaúcha. Em fase de edição, o vídeo recriará cenas desta época, destacando o papel da arte naqueles anos de trabalho árduo na lavoura e na construção da cidade.
 
Roteiro – A história é baseada em relatos encontrados pela autora em manuscritos redigidos, no ano de 1968, por Paulo Moron, filho de Martin. Ele conta que, em 1912, o pai, ao sentir “o cheiro de guerra”, abandonou o emprego e partiu para o Brasil junto com a esposa, cinco filhos e um clarinete. Chegaram através de ferrovia recém-inaugurada, que ligava São Paulo a Porto Alegre, passando pela Estação Barro, atual Gaurama, onde adquiriram terras. 
 
Mas, Martin Moron, tinha um diferencial dentre as demais famílias de imigrantes. Apaixonado pela música, ele tocava todas as noites uma valsa saudosa ou uma marcha alegre para espantar a saudade da terra natal. Aos poucos, outros dois colonos se juntaram ao músico. Um deles era alemão, o violinista Arthur Krüger, e outro tinha saído da Itália, o gaiteiro Giácomo Bez. O trio animava os bailes da região. Com a chegada de mais colonos, formou-se um grupo musical maior, composta por vários instrumentos. Tornou-se a primeira orquestra da região norte gaúcha. 
 
Na década de 20, as disputas coronelísticas provocaram o medo e o terror na colônia, acabando com os bailes e festejos. Mais tarde, com o fim deste tempo de amargura, começa a se formar uma nova bandinha a partir da dedicação dos músicos da comunidade. Eles não mediam esforços para escrever as partituras e ensaiar as canções, motivados pelo amor à música, pelo desejo de aprender, de cultivar e de transmitir a tradição cultural para filhos e netos.
 
Mobilização – As filmagens aconteceram no período de 30 de janeiro a cinco de fevereiro. De acordo com a diretora, a comunidade transformou a gravação num evento do verão graças ao empenho e envolvimento dos moradores. Para preparar o elenco, Gladis realizou reuniões por grupos: grupo de mães das crianças participantes, grupo de jovens, entre outros. Nestes encontros, os participantes ouviram a história, assistiram a filmes de época e conheceram os principais objetivos do projeto. Embora o vídeo não contasse com diálogos, era necessário absorver a atmosfera da vida dos primeiros colonos.
 
A diretora destaca o trabalho coletivo da comunidade. O figurino, por exemplo, exigiu três semanas de esforço de duas costureiras voluntárias na tarefa de transformar as roupas emprestadas pelos moradores em modelos do início do século XX. Várias viagens foram necessárias para buscar objetos antigos como relógios, baús, berços de madeira bruta, entre outras peças preservadas por algumas famílias. 
 
A Estação Ferroviária, símbolo da chegada dos imigrantes, ganhou de volta suas cores originais pelas mãos de trabalhadores cedidos pela prefeitura. As tintas foram doadas pela empresa Centro de Pinturas, filial de Gaurama. Era no armazém da estação onde aconteciam os bailes. Hoje, o espaço abriga o Museu Municipal. 
 
Além destes momentos de entretenimento, o filme resgatará cenas do cotidiano da família Moron e do confronto político conhecido como Revolução de 1923, ocorrido no município.  
 
“Numa das locações externas, no Parque Camping Desbravadores, foi preciso montar uma grande estrutura de apoio para garantir, por exemplo, a alimentação dos participantes. Tive uma equipe de assistência de produção muito atuante. Da mesma forma, a produtora responsável pela captação das imagens, que conseguiu ter uma percepção da história, me apoiou muito tecnicamente”, conta Gladis.
 
 
A Diretora – Gladis Helena Wolff tem Mestrado em História pela Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. É professora de História da Universidade Regional Integrada – Campus de Erechim e também ministra aulas na rede pública estadual. Atualmente também é Diretora de Cultura do município. Teve uma experiência amadora com audiovisual na produção de uma peça de venda para seu livro “Trilhos de Ferro, Trilhos de Barro – A Ferrovia Norte do RS”, também fonte de inspiração para seu curta-metragem. Ajudou ainda na pesquisa de um documentário sobre a história da ferrovia, que está sendo filmado em sua cidade e em outros dois municípios. Sempre se interessou pela história da música em sua cidade, o que a estimulou a desenvolver seu roteiro. Já tinha ouvido falar do Revelando os Brasis e soube dessa nova edição através do Canal Futura. Gladis vê no projeto a chance de fazer o registro historiográfico através de uma linguagem audiovisual de fácil assimilação. Sobre sua impressão em relação ao Revelando, resume: “Entendi como este projeto é fantástico”.

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