Revelando os Brasis | Aula de edição: montar é começar de novo

EDIÇÃO - Ano V

Aula de edição: montar é começar de novo

Quando a diretora e editora Marcia Medeiros perguntou sobre o que vem à cabeça quando se fala em edição cinematográfica, não faltaram respostas: organização… início e fim… começar de novo… cortar… relacionar elementos de imagem e de áudio… ordenar para construir uma sequência… escolher pedaços… dar ritmo.

A tarefa de editar um filme foi o tema das aulas ministradas pela professora durante as Oficinas Audiovisuais do Revelando os Brasis – Ano V. Desde o dia 10 de fevereiro, os moradores de pequenas cidades com até 20 mil habitantes estão desvendando as principais etapas de trabalho para a realização de um filme. As aulas prosseguirão até 22 de fevereiro, no Centro Cultural da UERJ, no Rio de Janeiro.

Edição/montagem relaciona pedaços para construir narrativas, enfatiza a professora. Marcia voltou ao passado para apresentar os primeiros filmes produzidos na história da humanidade, e que eram constituídos apenas por planos fixos e abertos. Os Irmãos Lumière e Georges Melies são representantes desde período.

Em seguida, os alunos assistiram às primeiras experiências narrativas de Edwin Porter, até chegar ao surgimento da linguagem narrativa clássica, com Griffith, que faz pela primeira vez uso do close up (enquadramento fechado), trazendo novos desafios para os atores.

Durante a aula, os alunos conferiram um trecho de um clássico da montagem da história do cinema, a cena da escadaria de Odessa, do filme O Encouraçado Potemkin, do cineasta russo Sergueï Eisenstein, produzido em 1925. Depois deste breve retrospecto, a editora explicou que, assim como a palavra está para o texto, e as notas para a música, o plano está para o filme, e que o plano é a menor unidade no espaço/tempo, pois o cinema é uma escrita no tempo e no espaço.

Iniciantes na linguagem audiovisual, a turma aprendeu um pouco sobre a escala de planos abertos (geral, conjunto), médios, fechados (close, planos detalhe), estudou alguns movimentos de câmera (zoom, panorâmica horizontal e vertical), travelling e até noções sobre o poder dramático da câmera subjetiva (quando o espectador e ou personagem veem com os “olhos” da câmera).

De acordo com Marcia Medeiros, a montagem do filme depende dos planos gravados (imagem e som), isto significa pensar na edição desde o primeiro instante da construção da história. “A montagem do filme começa no roteiro. Planos filmados e não montados estão cheios em HDs. Eu não consigo, no momento da montagem, fazer planos que não foram pensados, filmados anteriormente. Já vou para o set pensando na edição. Temos que participar de uma experiência de montagem para sentir o que falta no filme”, relata a editora e diretora.

Organizar a edição ou a montagem é também se preocupar com os elementos sonoros desde o princípio. “Não vou usar o som direto em todas as imagens. Por isso, o diretor precisa pensar em gravar o som ambiente em todos os lugares. O silêncio e os ruídos dos ambientes dizem muito sobre os lugares”, explica Marcia. A professora orientou os alunos a gravarem o som dos ambientes por três minutos, no mínimo, para possibilitar à edição fazer a unidade entre os planos. Depois das oficinas, os participantes voltarão para as cidades de origem para transformar as histórias em filmes de curta-metragem com até 20 minutos.

De acordo com ela, a relação de continuidade (ou não) entre os planos justapostos pelo corte tem uma função dramática muito importante. Segundo Walter Murch, editor de cinema premiado por filmes como Apocalypse Now e Paciente Inglês, o raccord (continuidade entre planos) deve ser pensado a partir da seguinte lista de importância: a emoção, o enredo, o ritmo, a direção do olhar do espectador, o espaço bidimensional da tela e o espaço tridimensional da ação.

Quem acompanhou cada orientação foi a pedagoga Ana Beatriz Barbosa Ferreira, de Arroio do Sal, no Rio Grande do Sul, selecionada com a história “Lavadeiras do Arroio do Sal”. “Para se alcançar uma boa edição, é preciso fazer um planejamento anterior, pensar nos planos e nas cenas antes. Aprendemos, por exemplo, que é preciso filmar um pouco a mais, que é necessário captar o som ambiente das locações para que, na edição, tenhamos material para trabalhar. A montagem é muito importante também porque, na edição, você pode mudar todo o seu filme”, relata Ana Beatriz.

Esforço e dedicação são fundamentais para a construção de uma obra cinematográfica. “Criar é ralar em cima do que se está realizando. Não acredito em genialidade, acredito em ralação. Posso ter um ou outro insight de vez em quando. A maior parte do tempo é ralação. O filme tem de ser mastigado, ruminado”, alerta Marcia..

Marcia Medeiros já atuou em diversos documentários, séries de TV, curtas e institucionais, tais como: “O Infiltrado” – HistoryChannel(2014), “Globo Ciência” – Rede Globo/Canal Futura (2013), QueMarravilha – GNT (2012), “Capoeira” – Tv Brasil/Bossa Produções (2010), “Experiências do SUS que dá Certo” – Ministério da Saúde (2010), “O Bom Jeitinho Brasileiro” – Canal Futura (2006-2008) “Memória para uso diário” – prêmio de público do  Festival do Rio (2008), “Fama” – Rede Globo (2003), entre outros.

 

 
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