Revelando os Brasis | As ilhas de Maria

EDIÇÃO - Ano IV

As ilhas de Maria

Todas as noites, à meia-noite, o Rio São Francisco dorme. Neste momento, as águas param de correr, as cachoeiras deixam de cair e os peixes ficam quietos bem no fundo do rio. Aproveitando o sono do São Francisco, a Mãe D? Água, uma mulher em forma de sereia, vem à superfície em busca de uma canoa onde possa se sentar para pentear seus cabelos. 
 
Esta e outras lendas brasileiras, assim como as brincadeiras de infância, nunca foram esquecidas por Maria José Santos Dias, moradora de Piaçabuçu, no estado de Alagoas. As lembranças de menina da alagoana, hoje com 35 anos de idade, compõem a história “As Ilhas da Minha Vida”, transformada em vídeo pela quarta edição do Revelando os Brasis.
 
Com roteiro, produção e direção de Maria José, o filme combina cenas de documentário e ficção. Cinquenta amigos, familiares e colaboradores da protagonista compuseram a equipe de produção, gravação e edição do vídeo. Para captar as imagens, Zezinha, como é conhecida, percorreu os lugares onde viveu com os pais e os irmãos. A maior parte do tempo, a família morou em ilhas do “Velho Chico”, como é chamado o rio. Maria José nasceu na Ilha de Santo Antônio. Ao longo dos anos, de mudança em mudança, também morou na Ilha dos Bagres, na Ilha da Criminosa, na Ilha da Mutuca e na Ilha de Santa Terezinha.
 
A chance de voltar aos lugares para resgatar imagens e acontecimentos do passado emocionou Zezinha. “Em cada lugar era como se sentisse um chamado de volta para casa. Em uma das cenas, encontramos um coral de pássaros que não parou de cantar. Foram momentos mágicos”, comenta. O filme resgatará lembranças marcantes da infância como as brincadeiras, os “causos” e as lendas contadas pela mãe em volta da fogueira. “Quando criança, eu permanecia horas à beira do rio na esperança de ver a Mãe D?Água, personagem de uma das lendas”, relembra a protagonista. 
 
As gravações aconteceram em janeiro. Segunda Maria José, as filmagens foram momentos intensos porque precisou vencer a ansiedade para encarar o desafio de produzir uma obra audiovisual. “A experiência de realizar um filme sobre a sua vida e dirigir a si próprio e outras pessoas para realizar um trabalho completamente novo mistura um turbilhão de sentimentos. É muito bom e também é uma loucura”, brinca a diretora que nunca teve acesso à tecnologia audiovisual e nem a oportunidade de ir ao cinema. Com a participação no projeto, ela espera engrandecer a sua vivência pessoal e a da comunidade. 
 
O lançamento do vídeo está previsto para acontecer ainda neste semestre, durante o Circuito de Exibição do Revelando os Brasis. Mesmo antes da apresentação do seu primeiro trabalho para o público, a diretora tem novidades: “Recebi um pedido para ajudar na produção de um documentário de uma amiga do pessoal da associação “Olha o Chico”. Não é o máximo?! Já serei produtora de um outro documentário”, comemora.
 
A diretora – Maria José Santos Dias estuda Magistério. A maior parte da sua vida trabalhou como babá. Atualmente, tem atuado como aprendiz de griô na Associação “Olha o Chico” que oferece atividades de artes integradas para crianças, jovens e adultos. Os griôs são as pessoas mais antigas que guardam conhecimentos populares como costumes, danças, histórias, canções e artesanato de uma região. Como aprendiz de griô, Maria José tem se dedicado a aprender tais conhecimentos com os mais velhos para depois repassá-los aos mais jovens com a intenção de preservar o patrimônio imaterial e cultural da comunidade. Inspirada pela pedagogia griô, Maria José ensina a crianças e adolescentes como produzir bonecas de pano, uma tradição artesanal da região, nas aulas ministradas dentro da associação.  

 

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