Alguns filmes contam histórias inventadas. Outros revelam histórias reais. Existem ainda obras que misturam ficção com a realidade. Mas quando uma história inventada se torna verdade? Esta foi a experiência de Frederico Lacerda, um jovem morador de Recreio, no estado de Minas Gerais. Quando foi lançada a quarta edição do Revelando os Brasis, o estudante de Produção Audiovisual e Cinema escreveu uma história de ficção sobre um rapaz de cidade pequena que sonhava em ser cineasta até um dia se deparar, em sua localidade, com uma equipe de filmagem e ser convidado pelo diretor para atuar como figurante, dando o primeiro passo para a carreira na grande tela.
A história foi selecionada pela quarta edição, mas antes mesmo das primeiras gravações, o que seria ficção tornou-se realidade. É porque enquanto participava da oficina audiovisual do projeto, no Rio de Janeiro, Frederico descobre que sua cidade estava recebendo, pela primeira vez, uma equipe de filmagem. Tratava-se do longa-metragem “Meu Pé de Laranja Lima”, dirigido por Marcos Bernstein, um dos roteiristas de “Central do Brasil” e diretor de “O Outro Lado da Rua”, estrelado por Fernanda Montenegro e Raul Cortez.
Mesmo longe, o jovem mobilizou amigos e a família para descobrir o contato dos realizadores e, em seguida, ligou para a produção se oferecendo para auxiliar no trabalho. Frederico foi aceito como assistente de platô das filmagens do longa-metragem do diretor renomado. Durante as gravações, ocorridas nos meses de novembro e dezembro, atuou em várias funções nas locações realizadas em Recreio e em outros municípios mineiros.
Ainda neste semestre, a equipe do filme voltará ao município para realizar as últimas cenas. Ainda surpreso com a coincidência, Frederico protagonizou na vida real uma história parecida com a que criou na ficção.
Ficção – A oportunidade de participar da equipe de “Meu Pé de Laranja Lima” empolgou ainda mais Frederico para a gravação do curta-metragem “O Mundo é Pequeno”, selecionado pela quarta edição do Revelando os Brasis. A ficção conta o drama de Izaías, um menino pobre, morador da pequena cidade de Recreio, em Minas Gerais, que sonha em ser cineasta, apesar dos protestos e insultos do pai, um homem grosseiro e explorador do trabalho dos filhos. Um dia a esperança se reacende quando o jovem se depara com um cineasta e a equipe de produção. Vindo do Rio de Janeiro, o grupo acabara de chegar à cidade para gravar uma história ocorrida no local. Com a ausência de um figurante, o diretor, que havia conhecido Izaías no bar onde o rapaz trabalhava, convida-o para desempenhar o papel. Assim, Izaías toma a decisão que poderá mudar a sua vida.
Gravação – Como um valioso estágio, a experiência no longa-metragem do roteirista e cineasta Marcos Bernstein ajudou o jovem diretor a resolver uma série de imprevistos ocorridos nas locações. Uma destas circunstâncias inesperadas aconteceu na gravação noturna num município maior escolhido para representar a chegada do protagonista à cidade grande. A equipe havia combinado de utilizar um ponto de energia em uma determinada casa. Mas, no momento, diante do cenário preparado, o grupo descobriu não haver ninguém na residência. O jeito foi buscar outro lugar para executar a cena.
“Chegamos a um bairro distante uns 10 quilômetros do primeiro, batemos na porta de uma casa e duas irmãs de caridade nos atenderam. Contei toda a história e elas aceitaram nos ajudar”, lembra Frederico. A equipe precisou de perseverança e técnica para filmar a cena de menos de minuto em uma rua com barulho de trânsito sem prejudicar a qualidade do áudio. “Ficávamos esperando o sinal fechar para gravar. Quando o sinal abria, a gente cortava. Gastamos meia hora para conseguir completar a cena”, relata o diretor.
As gravações duraram quatro dias. A maior parte das captações de imagem foi realizada em Recreio com a participação dos moradores da cidade e de outros municípios. Segundo Frederico, muitos membros da comunidade se mobilizaram para fazer parte do filme e não escondem a ansiedade para assistir o resultado na tela de cinema. Para o diretor, a experiência foi única. “Conseguimos contar a história e também vivenciamos a história na cidade”, conta o diretor referindo-se à experiência de gravar o curta-metragem de ficção e de trabalhar na produção do longa-metragem, respectivamente.
O diretor – Frederico André Lacerda de Andrade é estudante de Produção Audiovisual e Cinema da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), em Juiz de Fora. Em 2010, participou da produção do longa-metragem “Lanterna Mágica”, dirigido pelo cineasta e professor de roteiro Alexandre de Alvarenga, sobre a história do cineasta João Carriço, um dos pioneiros do cinema brasileiro. Antes de ingressar no curso de cinema, Frederico Lacerda estudava o quarto período da faculdade de Direito, em Leopoldina. Ele conta que durante as aulas de preparação para ser advogado aproveitava o tempo para escrever poemas. Daí, acabou por abandonar a área jurídica. “Dirigir era o meu sonho. Não imaginei que iria realizar tão rápido. Já estou escrevendo outro roteiro para mostrar a história completa do personagem Izaías”, revela. Com 24 anos de idade, Frederico destaca a importância do projeto na vida das pessoas das pequenas cidades. “Muitos moradores nunca viram uma câmera e nunca foram ao cinema. É uma oportunidade também para mostrar a cara do Brasil, incentivar a cultura e o gosto pelo cinema”, completa.